22 de jan. de 2013

Saudades, muitas saudades


Tem dias que eu nem penso em vc, mas tem dias que não aguento. Fico com os olhos cheios d´água pensando em onde vc estaria, por onde andaria, se ainda está inteiro.

Já se passaram 6 meses e eu ainda sinto um aperto no peito quando vejo a sua vaga vazia no estacionamento, as manchas de óleo que marcaram o chão. E eu lembro que eu nunca mais vou ver a sua lataria amarela reluzente ou ouvir o ronco característico do seu motor e aquela sua buzina que funcionava só quando vc queria.

Sabe que eu ando por ai procurando por vc? Olho nas ruas, garagens, estacionamentos e toda a vez que viajo, te procuro com mais afinco ainda. Tenho a esperança boba de que quem te roubou não quis te desmontar e vendeu para alguém que está andando com vc, talvez em outra cidade.

Será, Meu Deus? Será que vc está perto da praia, passando naquelas lombadas cabeçudas ou enfrentando aquelas estradinhas de terra em que vc se saía tão bem? Vc gostava tanto de viajar, nunca dava defeito nas nossas longas travessias. Já na cidade, ficava estressado, dava uns "pitys" e vez ou outra tive que te empurrar. Na hora era chato demais, mas depois morria de dar risada.

Fico esperando que chegue uma multa sua, uma evidência de que vc estaria rodando por ai. Uma prova de que quem está com vc é tão descrente de justiça que nem se deu a trabalho de trocar a identificação.

Nem sei o que faria se te encontrasse na rua. E eu tenho certeza de que te reconheceria, mesmo se a placa fosse outra. Conheço cada amassadinho, cada pequeno defeito que vc tem, o cheiro do estofado e até aquele radinho cenográfico que nunca funcionou.

Meu marido fala para comprarmos outro, mas eu não quero, eu quero vc de volta, era vc que eu amava, não qualquer fusca. Vc que carrega todas as minhas lembranças da infância, de uma vida.

Lembra do sucesso que fazia na rua? As crianças ficavam loucas ao te ver. Apontava, gritavam: "amarelo, fusca!"

E as pessoas sorriam, paravam ao seu lado, puxavam papo comigo ou com meu marido, que estava sempre ao volante. Nunca vi outro modelo de carro causar esse efeito, despertar essa simpatia toda.

O povo perguntava: "Quer vender? Quanto quer por ele?"
E a resposta era sempre a mesma, sisuda: "Ele não tem preço, ele não está a venda."

Muito a contra gosto, quando tinha que entregá-lo ao manobrista, ele abria um sorriso e dizia que adorava dirigir um fusca. Dava para ver que os outros funcionários também queriam testá-lo.

Vc já teve tantos apelidos: Amarelão, Volkzinho, Fuca, Fuquetes e já passou tanta coisa na nossa família, achei que ficaríamos velhos decrépitos juntos.




Eu aprendi a dirigir com vc. Bem, aprendi para tirar a carta pq nunca mais dirigi. Só te pegava para treinar em ruazinhas tranquilas, mas mesmo assim, nunca dirigi outro carro que não fosse vc.

Pena que eu não desisti daquela corrida de rua e te deixei em casa. Pena que eu não escutei os meus instintos e todos os avisos, pena que vc não está mais aqui comigo.

Depois daquele dia amargo, me espantei com tantos olhares sinceramente emocionados quando dizia que vc tinha sido roubado. Conhecidos, amigos e até o seu mecânico ficou triste de dar dó.

Mas a esperança é a última que morre, vou continuar te procurando, sempre!