As mudanças inevitáveis como término do colegial e faculdade levaram um bom tempo até que eu as aceitasse completamente. Aquelas que foram anunciadas, como a minha saída do coral ESPM ou do meu primeiro grupo de dança foram muito complicadas. E aquelas que eu não planejei e nem dependeram de mim, como quando meus amigos mudaram de cidade ou até de país tb foram doloridas.
Mas todos sabem que a vida é uma constante mudança. Um casamento altera sua vida, a chegada de um filho, então, nem se fala. Os anos passam, vc amadurece, muda de ideia, muda de objetivos, as pessoas vem e vão e vc tem que se acostumar com isso. Qualquer coisa pode acontecer com vc, de bom ou de ruim. E isso é tão assustador, mas é a regra do jogo, acostume-se ou tome uns remedinhos para seguir em frente.
Há alguns anos eu estava tão triste com o caminho que minha vida profissional seguia que queria mudar desesperadamente. Mas inconscientemente eu queria tudo novo e sem planejar foi o que aconteceu. Quando vi, estava em um novo emprego, morando sozinha e terminando um namoro de 11 anos. Foi bastante coisa, ufa! Mas eu acho que veio para o bem, de todos os lados.
O mais impressionante é que entre uma coisa e outra, eu estava passeando quando entrei em uma loja meio mística e acabei gostando de um anel com umas inscrições. A vendedora, uma senhora de cabelos ruivos e olhos azuis (com aquele jeitão de feiticeira, típico dessas lojas) me disse que era de Shiva e o seu mantra grafado. Diante da minha ignorância, ela disse que ele (e não ela, como eu havia pensando) era o principal Deus indiano e que ele trazia mudança. Resolvi comprar, já que a peça tinha "falado comigo".
Ao chegar em casa fui pesquisar mais sobre Shiva e confirmei que ele promovia sim a mudança, mas era mais conhecido com o Destruidor, aquele que destrói o antigo para dar lugar às coisas novas. "Destruir" não é uma palavra reconfortante para um serzinho que não gosta muito de mudanças, né? Mas eu passei a usar o anel achando que era só um adorno. E foi exatamente o que aconteceu na minha vida. Um belo furacão e tudo começou de novo.
Hoje, depois de muito tempo e um pouco de coragem, resgatei meu anel de sua caixinha, coloquei em meu dedo e vim trabalhar. No caminho, disse algumas vezes o seu mantra. Escorada pelo texto da Clarice Lispector que aborda a mudança, (que uma amiga me deu e eu o havia esquecido na minha carteira) acordei com o desejo de um novo chacoalhão. Não sem um certo medo, mas tenho fé que vou conservar o que me faz bem nessa vida e substituir o que está me fazendo mal.
Se o anel tem poder? Não sei ao certo, acho que ele só reflete a minha vontade. Só sei que mais um ciclo tem que acabar e eu, mais do que ninguém, vou ter que encerrá-lo.
Beijos e Bytes