31 de jan. de 2011

E a luz se apaga?

No dia 15/01 , perdi minha avó paterna. Agora não tenho mais avós, ela era a última. Passar pelo velório e enterro me fez analisar meus pensamentos, minhas lágrimas e percebi que me emocionava mais imaginando o sofrimento do meu pai. Não senti medo por ela. Tenho certeza de que sua missão foi cumprida e que ela foi para um lugar bom. Melhor do que o hospital em que ela estava. É a lei natural, uma hora temos que ir.

Há uns 3 anos, partia a mãe da minha mãe, igual sofrimento, mesma história: estava no hospital, os órgãos parando um a um. Algo que vc não deseja a ninguém.

Ambas faleceram com 94 anos. Duas guerreiras, cada qual à sua maneira.
Vó Mariana tinha nome de menina e esse era o seu espírito: alegre, brincalhona, gostava de dançar, cantar e festejar. Sua casa vivia cheia. Criou 5 filhos, ficou viúva logo e assim permaneceu, sem perder a vitalidade e o gosto pela vida.

Vó Dulcinha era meiga, mais melancólica, doce, como sugeria o seu nome. Trazia uma tristeza no coração e só cantava para espantar os males. Amava os animais como iguais. Viúva 2 vezes, criou praticamente sozinhas suas 2 meninas. A vida nunca lhe fora fácil.
Ambas viveram quase 100 anos, viram seus filhos casar, chegaram os netos e até bisnetos.

Quase um século! Assistiram a muita coisa, triunfaram num mundo feito para os homens e em forte transformação: 2 guerras mundiais, revolução sexual, evolução tecnológica. Quanta coisa aconteceu nesse mundo!

Foram donas de seus lares, professoras de seus filhos, companheiras de seus netos. Batalhavam com o que a vida lhes dava e às vezes tirava tb.

E agora, a luz se apagou? Acho que não. Assim como no final de um espetáculo em que o público se levanta para aplaudir os artistas e a luz acende, assim foi feito com elas.

No enterro, aplausos. Tal qual uma lagarta que abandona o casulo para virar borboleta, minhas avós abandonaram suas cápsulas para voar, para irem além e encontrarem a verdade desse mundo e dos outros.

Sim, meus leitores, acho que agora é que a luz acendeu para elas! Nós ainda estamos na escuridão. E vamos chegar lá, espero que com aplausos tb.

Bjos e Bytes

28 de jan. de 2011

Fazendo Hora Extra

[Esse texto é antigo e é um dos que eu mais gosto]
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A máquina de xerox ainda pingava. Assim como no carpete ainda escorria o sangue. Quente, vermelho, fresco...

Era tarde, muito depois do expediente. Ninguém no prédio e o ar condicionado já tinha sido desligado há muito. Na portaria, um funcionário sonolento preferia acompanhar o clássico Vila Xurupita x XV de Piraporinha, ao invés das câmeras internas de segurança.

Um vulto ágil entrou no prédio, oculto.
Subiu decididamente até o 7ºandar. Passos firmes nos degraus. Quase sem ofegar, saiu do hall das escadas e entrou no corredor central. A sua volta, baias e mais baias vazias. Tudo escuro, apenas uma luz fraca de um micro negro iluminava o rosto de um solitário trabalhador que tentava terminar seu serviço atrasado. Talvez ele nunca chegasse a concluir aquelas planilhas.

A figura sinistra ia passando pelas câmeras e cegando-as uma a uma. Suas intenções não pareciam ser as melhores.

Uma testemunha não muito observadora o descreveria como um homem totalmente vestido de preto, com um longo casaco, máscara e lenço na cabeça (encobrindo totalmente seus cabelos) e aparentemente desarmado. Escapar-lhe-ia o detalhe de que o intruso estava com um taco de beisebol escondido no casaco. Coisa que ninguém saberia ao certo, pois havia testemunha?

Tec, tec, tec, digitava sem parar. O funcionário não imaginava o que o aguardava. No fundo da sala, ouvia somente o barulho do trabalho. As horas passavam e ele só pensava em ir para casa. Foi então que avistou o seu algoz. Pensou ser uma alucinação depois de tanto tempo olhando para a tela. Desejou ser apenas um faxineiro boêmio com a vassoura na mão. Não era. Era a última pessoa que ele veria.

Golpe certeiro no joelho, óculos quebrado no chão. Várias pancadas sem reação. Foi rápido, foi forte, foi sujo, foi sem explicação.

As manchetes nos jornais da manhã seguinte estampavam confusão e dúvida sobre um crime sem acusados: "A morte de um Zé Ninguém conduzida por um anônimo." Fotos perturbadoramente detalhadas inundaram a internet e dividiam a atenção entre a guerra no oriente médio, a queda do dólar e novo escândalo de Paris Hilton.

Terror entre os familiares e luto para a empresa inteira.

Para mim? Mais um dia de folga na semana. E puxa, valeu cada centavo!

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Bjos e Bytes

27 de jan. de 2011

Abertura

Esse blog é resultado da vontade de voltar a fazer o que gosto (escrever), da necessidade de me expressar e da coragem de expor meus pensamentos rabiscados em punhados de papéis. Mas só isso não faria com que eu trouxesse esse blog à tona. Faltava uma fagulha, um insight que um certo anjo me soprou.

Não estou falando dessas figuras castas e puras que representam a bondade sobrenatural, estou falando de pessoas mesmo, aquelas que passam por sua vida para te dar uma ajuda, te apoiar ou até te soprar ideias boas. Eu os chamo de anjos de ocasião. Pq suas intervenções acontecem no momento certo, de forma tão espontânea, tão simples, que na hora vc nem percebe a grandeza do que está prestes a acontecer. E acho que nem eles sabem ao certo.

Tenho sorte de dizer que já conheci alguns assim, uns até que me pareceram diabinhos inicialmente, mas depois percebi que eram do bem. O processo de iluminação nunca é muito claro, contraditório, não?

E foi em uma conversa de 5 minutos que ele me perguntou: "Qual o seu sonho de criança? Vc sabe responder rapidamente, não? E o seu sonho agora?".

Pensei tantas coisas, fiquei uns minutos sem palavras e algum tempo maturando uma ideia. E estes amontoado de textos são resultado de uma das muitas coisas que vou começar a fazer por mim.

Este modesto blog virá recheado de textos novos e outros antigos que vou resgatar por ai. Eles não vão seguir uma ordem lógica. São pensamentos pinçados na bagunça dos meus neurônios, piadas internas, deboches, micro-contos, críticas, momentos descontrole...

Nesses textos estou eu, sem rodeios e espero que com menos máscaras, armaduras e essas coisas que a gente usa para se proteger e às vezes acaba se perdendo.
Ao meu Anjo de Ocasião (assim com letra maiúscula mesmo), que tenho certeza, sabe que isto aqui é para ele: obrigada! E desejo que muitos iguais a vc passem por sua vida para lhe dar esses empurrões do bem.

Aos que lêem essas letrinhas arranjadas caprichosamente, desejo que se emocionem, que reflitam, questionem e se divirtam!

Eu deixo com vcs um trechinho de um poema que tenho tentado seguir, ainda sem muito sucesso, nessa vida caótica:

"I´m the captain of my soul.
I´m the master of my fate."

Bjos e Bytes