28 de jan. de 2011

Fazendo Hora Extra

[Esse texto é antigo e é um dos que eu mais gosto]
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A máquina de xerox ainda pingava. Assim como no carpete ainda escorria o sangue. Quente, vermelho, fresco...

Era tarde, muito depois do expediente. Ninguém no prédio e o ar condicionado já tinha sido desligado há muito. Na portaria, um funcionário sonolento preferia acompanhar o clássico Vila Xurupita x XV de Piraporinha, ao invés das câmeras internas de segurança.

Um vulto ágil entrou no prédio, oculto.
Subiu decididamente até o 7ºandar. Passos firmes nos degraus. Quase sem ofegar, saiu do hall das escadas e entrou no corredor central. A sua volta, baias e mais baias vazias. Tudo escuro, apenas uma luz fraca de um micro negro iluminava o rosto de um solitário trabalhador que tentava terminar seu serviço atrasado. Talvez ele nunca chegasse a concluir aquelas planilhas.

A figura sinistra ia passando pelas câmeras e cegando-as uma a uma. Suas intenções não pareciam ser as melhores.

Uma testemunha não muito observadora o descreveria como um homem totalmente vestido de preto, com um longo casaco, máscara e lenço na cabeça (encobrindo totalmente seus cabelos) e aparentemente desarmado. Escapar-lhe-ia o detalhe de que o intruso estava com um taco de beisebol escondido no casaco. Coisa que ninguém saberia ao certo, pois havia testemunha?

Tec, tec, tec, digitava sem parar. O funcionário não imaginava o que o aguardava. No fundo da sala, ouvia somente o barulho do trabalho. As horas passavam e ele só pensava em ir para casa. Foi então que avistou o seu algoz. Pensou ser uma alucinação depois de tanto tempo olhando para a tela. Desejou ser apenas um faxineiro boêmio com a vassoura na mão. Não era. Era a última pessoa que ele veria.

Golpe certeiro no joelho, óculos quebrado no chão. Várias pancadas sem reação. Foi rápido, foi forte, foi sujo, foi sem explicação.

As manchetes nos jornais da manhã seguinte estampavam confusão e dúvida sobre um crime sem acusados: "A morte de um Zé Ninguém conduzida por um anônimo." Fotos perturbadoramente detalhadas inundaram a internet e dividiam a atenção entre a guerra no oriente médio, a queda do dólar e novo escândalo de Paris Hilton.

Terror entre os familiares e luto para a empresa inteira.

Para mim? Mais um dia de folga na semana. E puxa, valeu cada centavo!

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Bjos e Bytes

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