23 de fev. de 2011

A Mega liquídação das Almas

[ Esse texto é de Março de 2003 e me fz lembrar das conversas divertidas que tinha com minha sumida amiga Luisa]

Quando as pessoas querem justificar a beleza incomum de certas partes do corpo ou mesmo de todo o conjunto de alguém, é comum apelar para a divertida alegoria da fila. Geralmente, quando uma mulher possui peitos naturalmente bonitos, por exemplo, alguém sempre emenda:
- Ela deve ter passado duas vezes na fila dos seios antes de nascer.

Aproveitando-se desta história, minha amiga Luisa bolou uma intrincada logística para explicar todo o processo. Acompanhem! Coloquei um toque meu no meio de tudo.

Para a Luisa, o momento de escolha das características (tanto físicas como psicológicas), que teremos em nossa vida futura assemelha-se às mega liquidações das grandes lojas de departamentos americanas: aquele monte de gente se acotovelando para pegar os produtos top. Diante de tanta pressão, correria e baderna nem sempre é possível ficar com o melhor e a pessoa precisa se contentar com uma blusa que ficou grande, por exemplo.

Então, agora, imaginem a cena: um monte de almas perfiladas em algum estágio paralelo esperando o momento para correr para as filas (do cabelo, da esperteza, da cor dos olhos e etc). Na hora H é aquele empurra-empurra, um pega-para-capar e um salve-se quem puder. Se você conseguiu aquele suculento pandeiro*, ótimo! Mas vai ter que se contentar com aquele narizinho meia boca, que sobrou.

Mas como tudo nessa vida, há casos de pessoas privilegiadas que puderam ir nas filas sem pressa, sem ninguém e assim, passaram horas lá escolhendo tudo com muita cautela. São casos notórios de protecionismo celestial: Rodrigo Santoro, Marilyn Monroe, etc.

Minha amiga, nada ébria nesse momento, completa que o período de gestação dos bebês é que define quanto tempo essa pessoa terá para escolher todas as características. No caso dela, que nasceu com menos de 9 meses, ficou faltando um tanto para ela sair como queria.

Então, eu também saí no prejuízo, já que nasci de cesariana. Não estava preparada para sair, não deu tempo de escolher a barriga tanquinho e nem as coxas tipo Feiticeira. Fiquei muito tempo na fila do cabelo.

Fazendo uma associação rápida poderemos notar que a Gisele Bünchen deve ter tido uns 14 meses de gestação ou era protegida do HOMEM, que deixou ela freqüentar a Macys do corpo em um feriado, sozinha e sem pressa para acabar.

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Beijos e Bytes

*Pandeiro é uma gíria rasgueira, mas nem tanto, para a preferencial nacional, o bumbum.

16 de fev. de 2011

A grande sabotadora

Sabe quem é seu pior inimigo? Vc tem um espelho? É isso, é vc mesmo!

Vc que se coloca nas mesmas situações que já deram errado. Vc que deixa que os outros te ofendam ou te tirem do sério.

Inventamos conspirações novelescas, achando que alguém quer o nosso mal e está nos perseguindo, ou que querem tirar tudo que vc tem. E às vezes a tal pessoa nem está tão empenhanda assim em te sabotar.

Somos atormentados pela culpa que nós mesmos assumimos, por deixar de acreditar nas coisas, por colocar nossa coragem na gaveta, bem lá no fundo, deixando que a apatia a consuma pouco a pouco.

Por tentar desesperadamente se enquadrar no que a sociedade diz ser o padrão e que muitas vezes não é nada daquilo que vc queria. E nas poucas tentativas de escapar da caixa, vc acaba se preocupando obsessivamente com que os outros vão dizer ou pensar de vc.

Hj, algumas dessas coisas estão me atormentando e eu estou infinitamente triste com NADA ou com TUDO.

Esse texto é uma tentativa de sair dessa minha armadilha, dessa minha porção derrotista que, de vez em quando, me toma de assalto.

Para o show não parar, ele precisa começar

Dançar no teatro Bradesco foi um grande desafio para mim. A escola de dança que frequento faz no final de todos anos uma apresentação com os alunos. Um espetáculo mesmo, com direito a figurino, cenário, iluminação e em um teatro bacana.

Em 2009 foi no Frei Caneca e em 2010, mais ambiciosos, fizeram no Teatro Bradesco.

Eu gosto de dançar, mas não gosto de errar. E ainda mais neste caso que eu tinha um solo. Queria que a minha apresentação fosse perfeita, irretocável, Madonniana (Já disse que sou muito fã de Madonna?). Mas, quanto mais eu ensaiava e mais me cobrava, pior ficava. Me davam uns brancos, eu dançava feito um robô.

Nas 3 semanas que antecederam ao espetáculo, meu organismo estava totalmente desbalanceado e aquele minha vozinha interior ficava me sabotando: "Pq vc está fazendo isso? Vc só erra, vai passar vergonha. Desiste logo. Vc não nasceu para isso. E se as pessoas te acharem horrorosa e se as outras meninas quiserem o seu lugar?". [Huum, meio Cisne Negro isso, hein?, mas juro que este texto foi feito antes do filme ser lançado].

Até meu professor já tinha me falado que eu deveria curtir mais e me cobrar menos que o desempenho seria melhor. E olha que eu nem sou profissional, era para ser diversão, sem compromisso.

Mas nada me acalmava. E a cada ensaio geral, mais pânico, mais descontrole. Em um dos ensaios eu cheguei ao meu limite, desejei quebrar a perna para não ter que dançar.

Por sorte, recebi uma ajudinha no momento certo. Acabei tendo a oportunidade de fazer uma aula de yoga  algumas dicas me ajudaram a controlar minha ansiedade até chegar o dia da apresentação.

Cheguei ao grande noite mais ou menos sã e eu travei uma batalha interna para que eu conseguisse relaxar e aproveitar a maravilhosa oportunidade de me apresentar em um teatro que é palco de grandes atores, bailarinos e diversos artistas.

No dia, casa cheia, cerca 1.500 pessoas. E posso dizer sinceramente que curti! Errei sim, mas não foi nada de mais, acho que não comprometeu. E apesar de não ser um espetáculo profissional, foi algo muito grande para mim.

Eu tenho que lembrar sempre dessa apresentação, pois acredito que ela seja um marco. Ela representa o dia em que eu me venci. Venci meu lado pessimista e que me sabota. E de agora em diante, essa tem que ser a minha batalha.

[Já estou me sentindo um pouquinho melhor ;)]

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Beijos e Bytes

15 de fev. de 2011

Revirando os baús da memória

Dia desses, pensando no meu blog, eu tive um flash (não, não estou usando drogas ilícitas) e surgiu-me um fato remoto da minha infância.

Lembrei-me do concurso de redação que participei quando tinha 8 anos, na escolinha em que eu estudava. O tema era "Paz no Trânsito" e eu acabei ganhando a medalha de 2º lugar. Tive que subir em um palquinho e ler a redação para uma pequena platéia, que incluía alguma Autoridade ligada ao Detran ou algo semelhante. Devia ser alguma iniciativa da Escola  para começar a educar as crianças e evitar o caos nas ruas.
[Huuum, acho que o esforço foi pequeno]

Enfim, a medalha, eu tenho até hoje, mas a redação eu não guardei. Estava perdida para sempre.

Não exatamente, meu pai, orgulhoso por descobrir que, embora sua filha não mostrasse aptidão nenhuma para exatas, tinha lá uma quedinha por humanas, guardou a redação até hoje em uma pasta de capa dura.

Neste domingo, toda feliz, fui resgatá-la e me reencontrei com aquele pedaço de papel pautado, amarelado, com a minha letrinha meio cambaleante e calcada com força na folha.

A história da redação é real e ela voltou bem viva na minha mente. Bem triste também, algo que uma criança não deveria ver, mas ela só prova que desde pequena sempre tive um muito amor pelos animais.

Eis meu texto pueril:

29 de novembro de 1983

"Paz no Trânsito"

No Brasil, nas ruas, os motoristas de trânsito não obedecem os sinais e batem, atropelam animais e pessoas e muitas outras coisas acontecem.
Por exemplo, um dia eu estava passeando com a minha mãe e chegou um Fusca branco. Dentro dele tinha um casal de ingleses e um doberman filhote, que saiu do carro e nem viu um Passat que estava a mais ou menos 80 ou 100km por hora. O carro bateu no cachorrinho. O cachorrinho saiu rolando e quando chegou na outra calçada, ele morreu.
O Passat nem ligou foi embora e eu chorei muito. Mas se os carros obedecessem as placas nada disso aconteceria.

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Notas mentais:
1.Como eu sabia que o casal era inglês?
2.Um Fusca e um Passat? Putz, nem que eu quisesse, conseguiria esconder a época em que esse texto foi escrito ;)
3. Crases nunca foram o meu forte

Beijos e Bytes

10 de fev. de 2011

A Fábula Corporativa

Era uma vez, nesses tempos modernos, uma empresa, em uma cidade como todas as outras. O sol ardia quente e o ventilador girava preguiçoso, fazendo um ventinho que não refrescava, mas bagunçava os papéis soltos na mesa da recepcionista.

Um senhor, esperando ser atendido, tomava o café morno da cafeteira.

De repente, surge, todo esbaforido, um jovem, meio andando, meio correndo, passa na frente do senhor e diz ao atendente no balcão:

- Rápido... por favor... precisa ser agora...tenho que ser atendido...imedia..

- Calma, mocinho! Vc passou na minha frente! Sabes com que falas? Sou Importante, tenho preferência, eu gero dividendos para a empresa, rentabilidade...

- O Senhor não me entende! Eu sou Urgente tenho que passar na sua frente, agora...

E antes de terminar a sua frase, ele saiu correndo e entrou no depto comercial, passando pelas mesas, causando uma pequena baderna. Até que foi atendido pela mocinha de vendas.

E assim, na sequencia, depois do Urgente, chegou o Ultra Urgente, o Master Urgentíssimo, o É-para-ontem-pelo-amor-de-deus! E com eles vieram tb o Retrabalho, o Serviço Mal-Feito e as Horas Extras.

Importante ficou lá, esquecido, meio aturdido com tanta correria, ele achava que Dona Prioridade iria ajudá-lo, iria colocar ordem nas coisa, mas sozinha ela não dava mais conta.

Principalmente, depois que aposentaram o Planejamento . Ele era tão bom funcionário, correto, mas ganhava muito, gastava muito tempo para concluir suas tarefas, sempre impecáveis, mas muito demoradas.

Depois que ele se foi, o Cronograma nunca mais foi o mesmo. Esse estava sempre atrasado, desatualizado e dia após dia o batalhão de Urgentes invadiam a rotina de trabalho.

Importante foi ficando para trás e de tanto esperar, sofreu uma transformação, virou um Já-era-seu-prazo-acabou. Não deu nem tempo de virar um Urgente. Coitado, se foi...

Quando a Liderança percebeu o engano, era tarde de mais. Essa não era a primeira vez e muito se perdeu.

Liderança convocou uma reunião, e ali debatendo que nem loucos, tentando identificar culpados e falhas do Sistema (ah, o Sistema, ele é sempre culpado), foi a tiazinha do café,  Dona Bom Senso, que interrompeu com sua simplicidade, dizendo para sua boquiaberta platéia:

- “Em terra onde o Urgente é melhor que o Importante, o Prejuízo é rei.”

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Beijos e Bytes

7 de fev. de 2011

A arte ainda vai salvar o mundo

Se há uma coisa que me impressiona positivamente nesse mundo é a arte. Independente da forma como ela se manifesta, seja música, pintura, cinema, dança... definitivamente há algo de divino nisso.

Se não, como explicar que pessoas tão diferentes, com formações intelectuais tão diversas ou até mesmo com limitações físicas possam ser grandes artistas? Como explicar o Aleijadinho, Beethoven e Suzane Boyle (para citar um caso recente)?

A arte atinge as pessoas de forma tão intensa, tão irrefutável que mesmo uma pessoa sem estudo pode ser um grande pintor ou alguém com limitações físicas pode ser um grande músico.

É avassalador, é inexplicável e é maravilhoso. A arte não escolhe credo, cor e classe social. É libertador, é tão transformador que atinge seu criador e dá a ele outra opção de existência. Quantos casos ouvimos de pessoas que abandonaram o crime, que passaram de marginais a dançarinos?

E os efeitos em seus admiradores? Uma música pode trazer paz, um quadro pode acordar a felicidade e um filme consegue resgatar a esperança. Mesmo que por uns minutinhos apenas, a arte traz a tona o que temos de semelhante, o que nos une, afinal: os sentimentos.
Vc já viu guerras em nome da arte? Já ouvi falar dos Leonarditinos em confronto com os Michelangelitas? Isso não existe. A arte é apaziguadora.

Diferente da religião, que tinha a função de acalmar e confortar as pessoas, mas acabou virando desculpa para os maiores atrocidades às civilizações, a arte não exige nada e nem te toma nada, ao contrário, te abre caminhos.

Não sei dizer quantas vezes uma música salvou o meu dia. E nem tão pouco enumerar os filmes que me fizeram refletir e abandonar meus pensamentos ruins.

Independente do nome que tenha o seu Deus, é dele que vem arte. É uma das poucas coisas que genuinamente nos aproximam do Criador.

Ah, vc é ateu? Não se preocupe, a arte vai salvá-lo assim mesmo!

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Beijos e Bytes

3 de fev. de 2011

E o que é que eu sou?

[Texto saído do adormecido blog do Café na Web - maio de 2009]

É assim, parafraseando o poeta Waly Salomão, que vou me apresentar. Meu nome é Vanessa. Apelidos? Alguns, mas é por "Cosen" que tenho mais carinho. Diminutivo do meu sobrenome, símbolo de uma época muito boa e de pessoas queridas: aaa, os anos de faculdade..

Sou publicitária e trabalho com internet. Simples, né? Bom, não foi tão simples assim. Levei um bom tempo para assimilar essa última parte. Confesso que não estavam nos meus planos entrar nesse universo de bytes, pixels, dns e outras palavras pouco amistosas.

Mas minha vida sempre foi cheia de contradições e essa foi mais uma delas. A dificuldade inicial foi ajustar o meu discurso, tanto com o público interno, quanto o externo. Era um peixe fora d'água, um espécime humanóide XX em um habitat predominante de espécimes humanóides XY. Uma criatura formada em Humanas coexistindo com seres de Exatas. Eu falava: “a b c” e eles: “0 e 1”.

E a internet se mostrava fria para mim, intangível, intratável. Minha primeira tentativa foi a de trazer o meu repertório para esse novo microcosmo, mas a resposta era sempre a mesma: “vc executou uma operação ilegal e este programa sera fechado. Pam!” De volta a estaca zero.

Até que eu decidi entrar na matrix e aquela velha máxima nunca se mostrou tão adequada: já que não pode vencê-los, junte-se a eles. A partir daí, consegui ter um novo olhar sobre a internet, percebi que a sua função e até a minha, nada mais eram do que promover a comunicação, permitir a interação entre as pessoas, gerar vendas… E tudo aquilo que eu tinha aprendido na faculdade e nos meus empregos anteriores, voltou a fazer sentido.

Quando fechei um dos meus primeiros contratos de transmissão streaming, o cliente queria implantar uma TV web corporativa: comunicação pura. Ah, enfim, a minha língua.

Mas esse processo me modificou e trago sequelas.

Hoje, quando estou com os meus amigos, sinto um olhar diferente deles, um certo ar de desconfiança, como se eu tivesse sido abduzida. Percebo que quando eu digo: “vou dar um “ping” no fulano para ver se ele vai sair conosco” – as pessoas ficam meio ressabiadas, sem entender. “Dar um ping! Quero dizer: ligar para ele!”.

- Huummm. – respondem meus amigos desconfiados.

Não posso dizer que sou fluente em tecnês, acho até legal não ser assim, mas consegui equalizar as equações e chegamos a um denominador comum.

Bom, quase… Só dá pau mesmo quando tento justificar aos chefes uma atitude minha baseada na intuição. Ai, caros leitores, é tela azul na certa e a gente tem que rebotar o sistema.

Beijos e Bytes