Não que eu seja moralista, não que eu não goste de batuques, mas toda essa fórmula me parece enfadonha, caótica e massificada.
Entonces que novamente comecei a traçar o plano de fuga. Junto com o Cláudio, meu companheiro, meu parceiro nessa vida, chegamos a definição do destino.
Posso justificar a escolha, dizendo que foi ao acaso, simplesmente pq o preço e a disponibilidade estavam bons comparados com outros destinos. Pode ser que eu tenha lido em algum lugar sobre a Chapada dos Veadeiros e aquilo ficou perdido no emaranhado de minhas lembranças e de repente apareceu como um insight. Tb é plausível pensar que o Cláudio guardava em suas gavetinhas de pensamentos a vontade de conhecer esse lugar.
Mas prefiro acreditar na versão mística, que tanto combina com estas formações rochosas, cravadas no meio do país. Acho bem mais interessante dizer que nossas energias nos atraíram para esse lugar.
Não que eu esteja virando uma esotérica-mística-neo-hippie-cyber-y, mas narrar racionalmente o desenrolar da viagem seria bem menos nobre e tiraria toda a graça dos acontecimentos.
Desnecessário dizer que a região é linda, que as inúmeras cachoeiras são de tirar o fôlego (e são muitas mesmo, não deu para conhecer em 4 dias) e que conhecer o Cerrado me deixou sem palavras e, por muitas vezes, com lágrimas nos olhos. Já que ele é tão diferente da Mata Atlântica, mais rústico, mais sofrido, mas conserva sua própria beleza. Contrói paisagens quase infinitas, nas quais se enxerga longe, se vê o traçado tortuoso das trilhas, planaltos pincelados de pequenas árvores retorcidas pela ausência de água durante 6 meses do ano. Mas paradoxalmente cravada de cachoeiras caudalosas.
Tudo foi simplesmente perfeito e eu estava mais tranquila e confiante do que em outras viagens.
Embora eu tenha saído daqui com a ingênua esperança de ver um lobo-guará ao vivo e à cores, o encontro não aconteceu. Talvez pq ele seja um animal de hábitos noturnos e demasiadamente tímido ou talvez pq tenham me faltando aditivos químicos para que eu pudesse vê-lo junto com um elefante cor de rosa (se é que vcs e entendem - ahahah) mas acabei vendo tucanos, araras azuis e outros pássaros que não sei o nome.
Os dias foram quentes e ensolarados e as noites frescas e estreladas. E em uma das trilhas, fomos surpreendidos por sua singularidade, o terreno era todo composto por fragmentos de rochas e conforme andávamos, a trilha assumia a tonalidade da rocha mais abundante, fazendo com que o caminho passasse de rosa, para branco, depois amarelo, às vezes negro e em alguns momentos cinza. Não lembro de ter usado nenhum alucinógeno, só sei que em alguns momentos achei que estava indo ao encontro do Mágico de Óz.
Toda a noite um mirrado, mas animado bloco de carnaval saía pela rua principal, tocando um bate-macumba básico, seguido por uma curiosa kombi-alegórica que carregava bonecos ETs. Os foliões, que usavam alguns adereços, eram hippies, caciques, bruxas e crianças. Descobrimos aos poucos que não eram fantasias, eram os trajes naturais da população local. E ai sim, assistir aquele bloco tornou-se divertidíssimo.
Foi então que descobrimos a verdadeira vocação de Alto do Paraíso, uma cidade conhecida por ser ponto de encontro de ETs (hein?) e onde corria a lenda de que a região seria a única cidade intacta após o fim do mundo.

Usando toda a minha tendência a análises críticas e descontando todas as lendas, a cidade parece mesmo ser encantada, habitada por pessoas integradas com a natureza e nutrindo respeito uns pelos outros.
A gentileza era tanta e tão contagiante que certo dia pedi desculpas para a garçonete por não ter conseguido terminar a refeição. Era como se eu dissesse para uma tia que a comida dela era boa, mas que eu estava sem fome.
Algo que parece tão incrível e raro para nós, é o cotidiano dessas pessoas. E enquanto o inconsciente coletivo espera pelo fim do mundo, em uma tragédia apocalíptica, os habitantes da Chapada nada temem, talvez pq eles acreditem e vivam como se já estivessem no Paraíso.
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Beijos e Bytes
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