7 de jan. de 2014

Da besta fera a segundona melancólica

[Eu acho q escrevo melhor qdo estou triste ou brava. Esse texto é de julho/13, qdo estava sem emprego fixo. E algumas das perguntas já não são dúvidas, outras continuam]

Para mim, pior do que a besta fera* (a sexta feira em que as coisas estão fadadas a darem errado) são as segundas melancólicas, alimentadas pelos dias cinza e chuvosos de inverno.

Diferente da sexta, que guarda em si toda a expectiva de um fim de semana de diversão e pseudo hedonismo, a segunda é uma sentença: hora de sair do País das Maravilhas e encarar a realidade.

Impossível fugir dos meus balanços, da constante vigília que me imponho de analisar se estou certa ou errada o tempo todo.

Penso nos pequenos desejos materiais não adquiridos e nos grandes abstratos não concluídos. Na escolha que fiz em direção a melhor qualidade de vida, no sentido de exercitar o desapego, de sofrer menos o estresse, mas em contra partida ter menos dinheiro e uma situação meio instável.

E o conflito é grande, quando todos ao seu redor, só pregam que vc tem obrigação de ser bem sucedida, de ser linda, perfeita, ter tal padrão de vida, viajar bastante, comendo e bebendo loucamente. Vc tem q ir em todas as festas, ter 1 milhão de amigos, estar super informada sobre tudo o que acontece, ser politicamente correta... Nossa, quantas obrigações! Quantas receitas para a felicidade pasteurizada e homogênea.

E se eu quiser ficar em casa lendo um livro? Looser!
E seu for ao parque perto da minha casa ver o por do sol? Loooser!
E se eu ficar em casa e fizer uma comidinha simples e gostosa, tipo arroz, lentilhas e batata? Loooooser!!!

Olho para tudo isso e penso o que mesmo me faria feliz? Como me despir das cobranças alheias e fazer o que eu acredito? E como continuar acreditando em algo que parece ser tão contrário a tudo?

É sempre difícil estar na contramão. Admiro as pessoas que o conseguem, que seguem firmes em suas causas quase que solitárias, de não comer carne ou defender o parto humanizado.

Talvez seja muita ingenuidade minha achar que evoluí tanto que não preciso de dinheiro. Talvez seja auto sabotagem eu querer abafar o meu desejo de ter uma carreira de capa de revista. Eu bem sei que minha vida profissional ocupa um dos 3 pilares da minha vida. Será mesmo que se eu ficasse em casa fazendo artesanato me sentiria realizada?

E essa moda agora que diz a gente vai ser feliz no trabalho se escolher algo que amamos. Então eu tenho mais um belíssimo problema, pois tudo que eu amo não pode ser considerado uma profissão ou muito menos um emprego que me renda uma vida decente.

O ideal de transformar trabalho em lazer me parece tão inatingível como alcancar a imortalidade.

Mas logo vc encontra algumas pessoas que dizem exatamente o contrario: "amo meu trabalho, quando chega a segunda feira fico com um sorriso de orelha a orelha".

E logo penso: que m@##$%! Estou no caminho errado novamente. Se esse cara consegue pq eu não?

Pq eu simplesmente não sei, por medo, autocrítica? 

Mas eu sigo mesmo assim, esperando as sextas - mesmo feras - e desejando que um dia consiga resolver a equação que transforma os dias-feiras em um domingo eterno. Será?

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*termo cunhado pela minha amiga Pop.



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