10 de mar. de 2012

A insensatez ignorante

Algo de estranho no mundo. Devem ser essas novas lentes que estou usando para traduzi-lo. E olha que já está na hora de trocá-las. Há cada 10 anos, eu vou mudando.

Lentes de óculos? Não mesmo. Na verdade são aquelas formadas pelas camadas de conhecimento que vamos acumulando com nossa vivência.

Tem gente que usa a mesma desde que é criança. Outros já nasceram com suas velhas lentes, seus filtros amarelados. São as crianças adultas, parecem ter vindo ao mundo com espírito maduro.

Mas o mundo não mudou? Ah, sim, com certeza. Mas eu mudei tb. E eu o vejo de outra forma, com menos poesia, com menos tempo de escutar os pássaros e ficar parada na janela de madrugada só olhando as estrelas, recebendo a brisa gostosa da noite. Vendo a cidade piscar, tilintar. Era criança e tinha todo o tempo para contemplar.

Então veio a adolescência. Um tufão de novidades, efervescência e possibilidades. Não tinha tempo a perder, tinha que viver tudo ao mesmo tempo, como se não tivesse outra chance. Contemplar? Jamais! Tinha que mergulhar.Achava que podia fazer tudo, ser tudo. Dormir? Para que? Só parava quando caia doente em um ctrl+alt+del forçado.

Veio uma nova fase, um começo de amadurecimento. E naturalmente fui voltando para minha concha. A contemplação agora não é externa, pelo contrário. E quanto mais me aproximo da minha essência, vou encontrando um ar não tão puro - parafraseando Chico Science.

Finalmente admito que quero entender os outros para poder antecipar seus movimentos. Mas sou obrigada a encarar o fato de que isso é completamente inviável. Decido então que se não posso decifrar o outro, vou ter que decodificar a mim mesma. Ah, mas isso me parece tão menos interessante e tão mais dolorido.

Quero voltar a ignorância, deixa? Dá para fechar a Caixa de Pandora?

Enfim, aquieta-te, deixa fluir. Talvez para a nova fase, um pouco de insensatez seja novamente bem-vinda.

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Beijos e Bytes

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